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Marcelo Nova - Fotos de Cleber Junior |
Camisa de Vênus e Plebe Rude fizeram nesta sexta uma daquelas noites famosas do ambiente único do Circo Voador. Plateia lotada que pulou, cantou e se bateu em rodas de pogo, tudo como nos anos 80. Marcelo Nova, do Camisa, cantou apenas metade do show, o povo se encarregou do restante. Não acho certa esta atitude, o fã vai ao show cantar com a banda e não no lugar dela. Foi o que fez a Plebe Rude, afiada com Clemente animadíssimo aos saltos e Philippe Seabra mandando ver. Ah, e quase ao final do segundo show, o coro: "Fora Temer."
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Philippe Seabra |
Achei o Camisa frio, foi embalado pela energia da plateia. A banda perdeu a energia bruta do passado e se tornou uma banda virtuosa com dois guitarristas que esbanjam solos, o que provoca uma certa dicotomia com as letras e a postura de Marcelo, que remetem ao contexto musical do punk. A introdução foi uma instrumental de seis minutos repleta de solos. Será o Camisa mesmo?
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Clemente |
As duas bandas estão lançando discos. O Camisa Dançando da Lua, o primeiro em 20 anos. A Plebe Nação Daltônica, que é de 2015, mas Philippe me disse que só agora conseguiram uma data pro Rio de Janeiro. O Camisa tem dois originais, Marcelo e Robério Santana no baixo, a Plebe idem, Philippe e André X no baixo, a entrada, há 12 anos, de Clemente deu um gás na Plebe porque, além de mandar bem no palco, é um dos músicos mais importantes do rock brasileiro, líder dos Inocentes que estava na primeira banda punk do Brasil, a Restos de Nada, formada em 1978 em São Paulo.
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Roberio Santana - Camisa de Venus |
Antes da entrada do Camisa já se ouvia na plateia o bordão Bota Pra Fudê, que seria a música de abertura, com o comentário, mais adiante, de Marcelo de que, nos 36 anos de Camisa, não teve uma única vez em que saísse de casa sem ouvir isto e se vangloriou de que nenhuma banda do mundo, mesmo as maiores, tinha grito de guerra igual. Verdade e um grito que se espalhou para outras bandas, acabou virando canto de guerra do rock brasileiro.

Depois da abertura, ele metralhou vários hinos que a plateia cantou com ele e pra ele. Hoje, a impiedosa Bete Morreu e a primeira do novo disco, Raça Mansa, que chamou de o novo hino nacional: “Fui apresentado ao novo imbecil que, vejam só, já é celebridade. Então todos ergueram um brinde à nossa própria mediocridade. Seja bem vindo ao nosso paraíso, essa lama que encanta e seduz. Não esqueça sua oração e depois apague a luz. Nós dançamos a dança, nós cancelamos a luta, a nossa raça é mansa, a nossa massa é bruta.” Como se vê, Marcelo continua afiado nas letras.
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André X - Plebe Rude |
Do novo álbum rolou ainda Dançando na Lua, Sibilando Como Cascavel, Manhã Manchada de Medo, intercaladas com conhecidas como Gotham City, estendida como sempre com citação de Born Under a Bad Sign, A Ferro e Fogo, Só o Fim. E a sarcástica Muita Estrela Pouca Constelação, parceria com Raul Seixas, deboche de todo mundo numa suposta festa com sobra para a imprensa: "E o jornalista ele quer bajulação. Pois new old é a nova sensação. A burrice é tanta, tá tudo tão a vista. E todo mundo posando de artista."
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Drake Nova - Camisa de Venus |
Antes da versão de My Way, ele disse que a música nunca tocou no rádio, não teve nenhuma crítica e se tornou um sucesso graças aos fãs. Depois de cantá-la com palavrões e tudo ele disse que Frank Sinatra estava se contorcendo no túmulo. Se for assim não só ele, porque My Way é uma versão feita por Paul Anka da canção francesa Comme d'Habitude, de Claude François e Jacques Reveux, que ninguém conhece. Na reta final o rockão Simca Chambord com citações de Be Bop A Lula (Gene Vincent) e Whole Lotta Shakin' Goin' On (Jerry Lee Lewis). Delírio, pulação, mais duas, Silvia e Joana D’Arc e a Plebe se vai.
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Leandro Dalle |
Entrou 23h34, saiu 1h16. Não sei se é por conhecer a banda desde o princípio que acho estranho o contraste das letras e da performance do Marcelo, junto com a sonoridade da banda, com duelos de solos e tudo, sem nenhum desmerecimento pros excelentes Roberio Santana (baixo), Drake Nova (guitarra), Leandro Dalle (guitarra), Célio Glouster (bateria). O povo e amarrou, eu também, com esta ressalva.
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Célio Glouster - Camisa de Vênus |
Troca de palco.... 1h53 Plebe Rude em cena (é tradição no Circo banda entrar duas da manhã). Uma introdução classuda com orquestra e Dom Clemente entra no vocal com Philippe em Brasília, do disco de estreia O Concreto Já Rachou, 30 anos neste 2016. Do alto de seu meio século, Clemente pula e corre pelo palco cheio de energia como se o tempo não passasse pra ele, muitas vezes agachado para ficar mais perto da turma do gargarejo e estendeu o microfone várias vezes para os fãs cantarem.
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Clemente e André X - Plebe Rude |
Philippe insistiu na coerência da banda ao longo de sua história, ele falou muito nisso num papo que tivemos na quinta de tarde ali mesmo no Circo. É a palavra valor maior do trabalho da Plebe. Philippe é americano, podia fazer o que muitos brasileiros sonham, dar as costas ao Brasil, mas diz que adora seu país de adoção e colabora, com sua música, para o aperfeiçoamento político e social daqui.
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Clemente - Plebe Rude |
Ele pediu desculpas pelo que chama de hipocrisia de artistas que só começaram a se politizar depois que viram povo na rua. Isso antes de tocar Censura, do segundo disco Nunca Fomos Tão Brasileiros (1987), que ainda chegou a pegar a Geração 80 do Rock Brasil. Do disco novo, Anos de Luta, título alusivo a Dias de Luta, do IRA! “É pedir demais, me diga, coerência da própria geração? Mas se você não vê a diferença. É daltônico como o resto da Nação. Os anos de luta, será que foram em vão? (entretenimento no final). O desperdício de toda a geração (entretenimento no final). Renato Russo em Parque de Exposição (entretenimento no final).”
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Teve uma bela homenagem a Redson, líder do Cólera, um dos maiores expoentes do rock brasileiro, morto em 2011, com dois hinos dele, Medo, sobre um mundo em que se dá mão só pra empurrar e Pela Paz Em Todo Mundo, sobre o pacifismo que ele defendia, junto com uma preocupação pela ecologia. A banda cult de Brasília Escola de Escândalos foi homenageada com sua música mais conhecida, Luzes (tem no you tube) e outro ícone punk The Clash teve seu Rock The Casbah em delirante união palco-plateia.

Ufa! Tou escrevendo muito. A Plebe preparou um setlist impecável. Fez um medley do já citado segundo disco com Nunca Fomos Tão Brasileiros – 48 – Consumo - Nova Era Techno. E um segundo medley com Proteção que teve Clemente cantando o hino Pátria Amada, dos Inocentes, citação de Selvagem?, dos Paralamas, e Censura novamente. Eles tocaram todas as faixas do aniversariante O Concreto Já Rachou, com Minha Renda anunciada em áudio pelo Chacrinha e a faixa de abertura encerrou a noite, às 3:16, Até Quando Esperar. Os cinquentões do Rock Brasil continuam a cuspir fogo.
O álbum aniversariante é o concreto já rachou. Sobre o camisa, a galera cantar é algo comum nos shows desde a turnê do Viva quando ganharam mais espaço e hits, nada de perder energia, talvez sentado pense assim mas no meio da galera ambos os shows foram perfeitos. De resto boa resenha.
ResponderExcluirExatamente o que eu procurava sobre camisas personalizadas, muito obrigada!
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